Aprender a “coopetir” para vencer: o modelo de negociação posicional

A chamada da reportagem de uma das últimas edições da Harvard Business Review alerta: “Rivais estão trabalhando juntas mais do que nunca! Apresentamos aqui algumas formas de avaliar os riscos e recompensas…”.

Em um mundo em que Sun Tzu e Carl Phillip Gottlieb Von Clausewitz são considerados inspirações para muitos executivos, será que uma linha de pensamento que combina a cooperação com a competição pode nos ajudar a melhorar a forma como negociamos?

Vamos começar avaliando o fenômeno da “Coopetição”. Este neologismo lexical foi publicizado por Brandenburger e Nalebuff (1996) em meados da década de 90 como uma derivação do jogo clássico de soma zero. Apoiados na conhecida Teoria dos Jogos, os autores demonstraram como a coopetição poderia levar a um jogo de resultado positivo quando os objetivos de jogadores concorrentes eram parcialmente congruentes.

Sabemos que clientes e fornecedores devem cooperar para aumentar o valor de suas ofertas. Enquanto isso, as empresas concorrentes competem por mais espaço de mercado. Observamos também muitos exemplos em que os interesses do momento afetam o status da dinâmica relacional estabelecida e modificam a resposta “natural”.

 

Cooperar para competir

Em 2008, a empresa americana de remessas e entregas de encomendas UPS recebeu uma proposta de sua concorrente DHL para transportar os pacotes da companhia com sua frota área exclusiva. Naquele momento, a DHL estava enfrentando um momento economicamente complicado e, se a UPS recusasse a oferta, a empresa alemã poderia deixar de existir e renunciar a sua participação de mercado. Contudo, não aceitar a oferta da DHL também significaria para a UPS dar oportunidade para outro adversário importante; a FedEx – que iria incrementar sua receita e crescer sua operação no Estados Unidos. Por tudo isso, a UPS acabou optando por “ajudar” seu concorrente.

Anos depois, assistimos as automotivas Ford e GM se unirem, em 2013, para compartilhar conhecimento sobre tecnologia de transmissão. As empresas tinham capacidades complementares e, apesar de vivenciarem uma concorrência aguerrida no design, produção e venda de veículos, escolheram cooperar para economizar custos de pesquisa e aumentar a velocidade do desenvolvimento da nova geração de carros elétricos.

A complexa economia das plataformas também apresenta alguns casos recentes de coopetição entre as gigantes tecnológicas. A produtora de jogos online Zynga, que começou dentro do Facebook, viu o compartilhamento social propiciar um crescimento rápido e exponencial do seu negócio. A relação era aparentemente ganha-ganha; quanto mais a fornecedora crescia, melhor a oferta para os usuários do Facebook. Contudo, o poder de barganha individual da Zynga preocupava a plataforma social que, por sua vez, optou por incorporar mais de três mil novos fornecedores em 2011; o que abalou a relação entre as companhias, mas aumentou a diversidade de oferta de games e as receitas para o Facebook.

Outro exemplo interessante é o movimento cada vez mais recorrente da Amazon de incorporar produtos próprios que concorrem diretamente com a oferta de seus parceiros sellers. Existem casos em que a plataforma foi acusada de acessar diretamente os fabricantes de seus parceiros para construir acordos melhores.

Estas ações antagonistas fizeram com que empresas como Birkenstock, Nike e Tower, por exemplo, optassem por encerrar sua relação com a empresa de Bezos e passassem a fomentar a venda online por meio do seu próprio canal.

 

Negociações como Arenas

Sem dúvida, o trabalho de Brandenburger e Nalebuff (1996) foi importante porque abriu o campo para uma série de outras pesquisas multidisciplinares.

Recentemente, li de David Rogers em “Transformação Digital” que ao invés de enfrentar a estratégia como uma dicotomia entre Competição e Cooperação, os líderes necessitam: “(…) refletir sobre competição menos em termos de setores e mais em termos de arenas (…)”. As arenas representam os contextos que guiam a forma como devemos implementar a estratégia. Se o campo define o jogo, não podemos limitar nossa práxis a diretrizes prefixadas. Necessitamos de um estilo mais flexível, que nos permita adequar a ação ao meio que estamos vivenciando naquele momento.

Curiosamente, um ano antes do trabalho de Brandenburger e Nalebuff, os Professores do IESE Business School Richard Pascale e Juan Roure também apresentaram um trabalho relevante. Inspirados na mesma Teoria dos Jogos e na Evolução da Cooperação de Robert Axelrod, os autores demonstraram que existem muitos fatores que influenciam as táticas aplicadas em negociação e, por isso, os executivos devem saber colocar-se de forma posicional diante dos mais variados contextos.

Devo competir ou colaborar? Ganhar ou perder? Devo construir uma relação de ganha-ganha? As respostas para estas perguntas dependem de quem está negociando (quais são os estilos/necessidades/interesses/objetivos que estão em jogo), o que se disputa e qual o contexto daquela interação (informação compartilhada, tempo, número de variáveis e diferença de poder). Negociar com uma pessoa com a qual você tem longa relação e confiança, provavelmente, será diferente de uma interação com um comerciante de Nova Delhi, que você ainda não conhece. Renovar contratos de fornecimento recorrentes entre empresas de poder econômico equiparados tenderá a ser diferente de uma compra pontual entre um gigante do varejo supermercadista e um produtor rural.

No Núcleo Consensus de Estudos em Negociação, acreditamos que as negociações nunca são plenamente colaborativas ou competitivas. Dado o seu caráter fluído e variável, tendem a se movimentar entre estes dois espectros enquanto se atua. Para melhorar nossa capacidade de resolver problemas e criar valor, necessitamos reconhecer este caráter coopetitivo das negociações posicionais e compreender mais profundamente os elementos que afetam esta dinâmica interacional e controlando mais o processo aplicado.


 

Como negociar em situações complexas?

O Programa Estratégias Avançadas de Negociação é um programa prático que reunirá executivos que já negociam e que buscam desenvolver ainda mais suas habilidades de criação e reivindicação de valor para alcançar melhores acordos em suas negociações.

Com diversas simulações e estruturação de um esquema conceitual, permitirá ao participante vivenciar situações de complexidade crescente, trabalhando temas essenciais, tais como:

  • Princípios e processos de uma negociação eficaz
  • Táticas para melhor performance
  • Perfil de negociador
  • Diferenças de poder nas negociações
  • Interferências e afinidades culturais
  • Gestão de bloqueios
  • Papel da criatividade
  • Temperamento e emoções
  • Gerenciamento de conflitos
  • Múltiplas partes envolvidas
  • Negociações complexas que envolvem contratos de contingência e bônus
  • Impacto das tecnologias nos resultados das negociações
About
Renato Fernandes
Professor de Marketing com ênfase em Vendas e Membro do Núcleo de Estudos em Negociação, Conflito e Comunicação Mestre em Marketing | PUC-SP Programa de Desarollo de Directivos | IAE Business School Sales Performance: Helping Client to Succeed Facet5: The Power of Personality Graduado em Comunicação Social | PUC-MG Como executivo liderou todo o ciclo comercial de empresas de educação executiva em Minas Gerais e São Paulo. Como Professor, desenvolveu milhares de pessoas em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Pará, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Brasília. Como Consultor desenvolveu projetos para empresas dos segmentos de mineração, varejo, tecnologia, frotas, hospitalidade, saúde e gestão pública.
Comments
  • Marcos Nóbrega
    Responder

    Providencial a síntese que oferece o artigo, a respeito desse tema, negociação posicional. Inicialmente, pode parecer um paradoxo, mas com os exemplos citados, verifica-se claramente que é perfeitamente realizável.

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