O Grande Desafio da Incerteza

Assim como um maestro, o Diretor Geral precisa ser um grande líder para conduzir a empresa nesse momento de crise, de forma harmônica e sem perder o ritmo do conjunto

O padrão anormal pelo que o mundo está passando gerou o ambiente de negócios mais desafiador de nossa existência. Desde o início da pandemia, enfrentamos, diariamente, adversidades que, às vezes parecem ser parte de um filme de ficção cientifica. Juntamente com esse contexto, a mudança constante de cenários requer o desenvolvimento e implementação de soluções, “fora da caixa” e em ritmo acelerado.

Em um contexto como esse, a pergunta principal que surge para muitos líderes é: como vamos superar essa conjuntura tão complexa?

É muito difícil encontrar uma resposta exata para essa pergunta, até porque ela varia amplamente dependendo do contexto específico enfrentado por cada líder. Apesar da falta de uma solução fácil, sabemos que em tempos de crise precisamos reforçar nossa base para enfrentar a situação com coragem, pragmatismo e prudência.

Com relação à abordagem, acredito que seguir um caminho estruturado, passando pelas fases de diagnóstico, planejamento, preparação e, posteriormente, implementação, vai ser um importante fator de sucesso no enfrentamento e superação dessa crise.

Ao longo desse processo, os negócios terão que superar quatro fases críticas: enfrentamento, sobrevivência, retorno e reinvenção.  A seguir, apresento meu entendimento sobre o contexto de cada uma delas e a atitude necessária para vencer os desafios:

  1. Enfrentamento:

A nova crise gerou uma série de problemas de ordem prática e urgente. São adversidades relacionadas à saúde dos colaboradores, implementação de trabalho remoto, ajuste de práticas de segurança nas plantas, utilização de novas plataformas tecnológicas para desenvolver e controlar as atividades de dia a dia, entre muitos outros. Nessa fase, precisamos tomar decisões imediatas para a adaptação ao novo normal, com segurança e minimizando, ao extremo, as descontinuidades do funcionamento do negócio.

  1. Sobrevivência

Após a superação do momento inicial, enfrentaremos os problemas relacionados à sobrevivência do negócio. Gestão de caixa é certamente um tema principal – como diz uma frase célebre de mercado: “cash is king”. Além disso, muitas dificuldades relacionadas à operação do negócio terão que ser resolvidas. Nessa fase, é fundamental o desenvolvimento e atualização constante de cenários e testes de stress para assegurar a saúde financeira necessária para solucionar os desafios da crise.

  1. Retorno

Garantir a volta para um modo de funcionamento em um contexto mais próximo do que podemos chamar de normal exige planejamento e grande capacidade de gestão. Atividades como reiniciar o supply chain, definir e implementar novos padrões de segurança e ajustar a força de trabalho serão desenvolvidas. Nessa fase nos deparamos com a realidade do “new normal” que, seguramente, envolverá novas habilidades, e que também pode trazer diversas novidades positivas. Com certeza, nesse momento, todos terão passado por um grande aprendizado e entendendo que o novo normal passou a ser o único normal, podemos buscar a melhoria de várias práticas ao longo dessa fase.

  1. Reinvenção

Nesse momento, precisamos elaborar uma visão clara sobre como mudaram e vão funcionar os principais pilares do negócio. Precisamos entender claramente quais as mudanças trazidas pelo novo normal para nossos clientes, “supply chain”, organização, nossa proposta de valor, concorrência, entre outros. Esse é a hora de reinventar e ajustar o negócio para assegurar a criação de valor e longevidade no mercado.

Passar bem por esse processo vai exigir liderança, competência multifuncional e, acima de tudo, uma grande capacidade de aprendizado e adaptação.

O diretor geral tem um papel fundamental nesse cenário. É ele quem vai interpretar a complexidade da situação, assegurar que todas as áreas trabalhem integradas, liderar a solução dos diferentes problemas, em ritmos diversos que cada situação exige, e em equilíbrio para que todos cheguem ao resultado desejado.

Assim como um regente tem autoridade notória, deve respeito pelos talentos e capacidades individuais e tem que se fazer entender por todos que estejam mais ou menos próximos dele, o Diretor Geral terá que desempenhar essas importantes competências com sua “orchestra”.

Quantos estão realmente prontos para lidar com este “new normal”?

About
Leonardo Azevedo
Professor do Departamento de Direção Geral Master Business Administration em General Management University of North Carolina at Chapel Hill Engenheiro Mecânico e de Produção PUC RJ É Consultor nas áreas de Estratégia, Gestão e Desenvolvimento de Negócios, Membro de Conselho de Administração, Carreira Executiva como Manager e Partner em consultorias internacionais de gestão: McKinsey, AT Kearney e a-connect (Firma Boutique de Estratégia baseada na Suíça com alcance global). Carreira Executiva como Diretor Corporativo de Planejamento Estratégico e M&A da 3M Carreira Executiva como Diretor Global de Marketing da Whirlpool Carreira Executiva como Diretor de Marketing da Brasil Telecom e Vivo leonardo.azevedo@ise.org.br
Showing 2 comments
  • Paulo Sergio Biscardi
    Responder

    Excelente exposição Prof. Leonardo Azevedo.
    Parece-me que neste novo normal o trabalho em equipe será vital para a construção de novas estruturas organizacionais. O Diretor Geral terá que ter uma habilidade forte de agregar os talentos e respectivos conhecimentos de modo a somar no todo, eliminar as vaidades e estrelismos e engajar coletivamente.
    Neste novo normal, todos estamos aprendendo e quem achar que sabe o caminho, pode ser o pior dos guias.
    Gostaria de conhecer sua opinião sobre uma questão: teriam os atuais líderes matéria-prima para se moldarem às necessidades do novo normal ou surgirão novos líderes, com novos componentes e novos insumos imprescindíveis para esta nova etapa?

  • Leonardo Azevedo
    Responder

    Olá Paulo, tudo bem? Obrigado pelo comentário. Em relação à sua questão, normalmente as crises de alta intensidade, como a que estamos passando, funcionam como catalizadores de mudanças, sendo que várias dessas mudanças já estavam acontecendo de maneira gradativa antes da crise. Acredito que a menor parte dos líderes atuais têm as competências já desenvolvidas para liderar com eficiência nesse novo normal. A maior parte, necessitará desenvolver essas competências, e como em todas as situações, uma parte conseguirá fazer isso, através de aprendizado formal e empírico, mas outra parte abrirá oportunidades para novos líderes que vão emergir nesse novo contexto. Fique à vontade para me procurar diretamente caso você queira se aprofundar no assunto.

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