Relatórios Contábeis em uma Casca de Noz

Todos estamos acostumados a ouvir falar de Balanço, DRE (Demonstrativo de Resultado da Empresa) e DFC (Demonstrativo de Fluxo de Caixa) como relatórios contábeis importantes para entender a situação financeira das empresas. E também aprendemos, em termos técnicos, o que é de cada um. Neste texto revisamos o significado de cada um destes relatórios e a maneira como eles se relacionam entre si.

Um Balanço nos dá uma fotografia no momento da situação financeira em termos de direitos e obrigações da empresa, ou seja, de seus Ativos e seus Passivos. Uma empresa começa com Ativos = Passivos = 0, e cada movimentação contábil modifica de maneira a que permaneça verdadeira a equação (Ativos = Passivos). Aqui estou simplificando e considerando que o Patrimônio é também um Passivo, pois a fórmula contábil original é: Ativo = Passivo + Patrimônio. Os Passivos mostram as origens dos fundos, e portanto, as obrigações da empresa, enquanto os Ativos mostram as suas aplicações, ou seja, onde está investido o dinheiro.

As movimentações contábeis podem transformar um ativo em outro, um passivo em outro, aumentar/diminuir um passivo e um ativo, ou tudo isto junto, mas sempre de maneira que ao final Ativos = Passivos. Exemplificando, uma parte do ativo Dinheiro pode virar ativo Estoque, um passivo Dívida de Longo prazo pode virar um passivo Dívida de Curto prazo, ou um aumento no passivo Dívida de Longo prazo pode corresponder um aumento no ativo Caixa.

Neste texto interessa chamar a atenção para duas contas do Balanço em particular: os Lucros Retidos que são uma obrigação com os investidores, e o Caixa que são os fundos com liquidez, ainda não transformados em nenhuma outra conta de Ativo. A partir daqui então podemos entender de onde vem o DRE e o DFC. Supondo que para cada operação contábil façamos um novo Balanço e assim teríamos ao longo do tempo vários Balanços. Todas as movimentações que mudassem o Caixa da empresa formariam o que chamamos o DFC, enquanto todas as movimentações que mudassem os Lucros Retidos da empresa formariam o que chamamos de DRE. Ao olhar apenas o Balanço (fotografia no tempo) da empresa em um momento inicial e final veremos que estas duas contas mudaram, mas não teríamos ideia de como, ou seja, com quais movimentações, ocorreram estas mudanças.

Assim, podemos então dizer que ao entender bem um Balanço, entender o DRE e o DFC, pelo menos conceitualmente, é nada mais nada menos que olhar com mais detalhe duas de suas contas: Lucros Retidos e Caixa. Acontece que muitos dos problemas que enfrentam as empresas, inclusive lucrativas, é a gestão do fluxo de caixa, isto é, ter dinheiro para cumprir com as obrigações no tempo, e também a necessidade de ter lucro, isto é, resultado líquido positivo, então daí surge a função do DRE e do DFC como relatórios independentes. Porém, não podemos esquecer suas origens como contas particulares do Balanço, mas olhadas ao longo de um período contábil para entender suas mudanças entre um período inicial e final.

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Marcos Citeli
Diretor e Professor dos Departamentos de Contabilidade e Controle e Análise de Decisões. Professor de Negociação, Empresa-Família e Direção Geral. Membro do Núcleo Consensus de Estudos em Negociação. Doutorando e MBA IESE Business School Certificado pelo International Faculty Program IESE Business School. Mestre em Sistemas PUC-RJ Graduação em Engenharia de Sistemas IME – Instituto Militar de Engenharia Atua com o consultor de empresas mciteli@ise.org.br