É bastante usual muitos associarem o poder a uma conotação negativa – por conta dos infindáveis maus exemplos encontrados na política e no próprio meio corporativo. Entretanto, todo indivíduo saudável tem, em alguma extensão, o exercício do poder como motivador e desenvolve, segundo Alfred Adler, “a habilidade de manipular ou de controlar as atividades dos outros para que se encaixem aos seus próprios propósitos.”1 Para J. K. Galbraith, “o poder é buscado não só em virtude do serviço que presta aos interesses, valores sociais e às ideias sociais, mas também por consideração a ele próprio, pelas recompensas emocionais e materiais inerentes a sua posse… o exercício do poder é inevitável na sociedade moderna, nada se realiza sem ele.”2 Essa é uma lição fundamental para todos nós: não apenas precisamos ficar confortáveis com a ideia de usar o poder para alcançarmos nossos objetivos profissionais e pessoais, mas também precisamos compreender sua dinâmica e, além disso, saber como agir de modo eficaz ao exercitarmos o poder.
O sucesso no uso do poder é um dos mais importantes determinantes da eficácia gerencial: “gestores eficazes influenciam subordinados a desempenhar o trabalho eficazmente, influenciam seus pares para que deem suporte, e influenciam superiores para que providenciem os recursos e a aprovação das mudanças necessárias”.3 Gary Yukl sintetizou os tipos de poder na organização e as condições para que sejam exercidos. A primeira distinção que ele faz é que existem tipos de poder ligados ao cargo: (i) o poder de posição, ou seja, aquele formalmente concedido ao indivíduo por ele ocupar um cargo com atribuições, responsabilidades e a possibilidade de alocar recursos e tomar decisões dentro de seus limites de alçada e (ii) o poder ou formas de poder vinculados ao próprio indivíduo, não atrelado à posição formal na estrutura da empresa, mas informalmente utilizado por ele para influenciar o rumo das ações, decisões e comportamentos, caracterizando um poder pessoal.
Ao mergulharmos nos trabalhos do próprio Yukl e nos de Pfeffer4, é possível identificarmos cinco formas fundamentais de poder pessoal ou informal: o poder do conhecimento, o poder de referência, o poder das relações, o poder da ação política e o poder do empenho pessoal.
O poder do conhecimento (ou da expertise) advém da capacidade de se resolver problemas e desempenhar tarefas complexas. Quanto mais importante ou necessária a qualificação, maior é o poder do indivíduo que detém o conhecimento, que pode ser solicitado com frequência ou em momentos importantes a expressar sua opinião.
O poder de ser uma referência depende de sentimentos de afeição, admiração e lealdade. Tem mais poder de referência quem é mais amigável, atraente ou charmoso, mas esse tipo de poder depende fundamentalmente de caráter e integridade, que se revelam na constância, confiança e em se assumir riscos para promover e defender valores. Funciona em todas as direções por meio do role modeling. Enquanto o poder do conhecimento sempre foi necessário para um executivo legitimar-se tecnicamente frente a sua equipe, o poder de referência vem crescendo em importância por conta de as organizações mostrarem-se crescentemente não hierárquicas e com maior necessidade de colaboração e, portanto, dependendo de relações de confiança para funcionar bem.
Por sua vez, para ser efetivo, o poder advindo das relações pessoais – das redes de interações informais dentro e fora da organização e da capacidade de se conseguir aliados e construir coalizões – demanda foco, tempo e a capacidade de julgamento de se perceber quais conexões são relevantes e devem ser particularmente nutridas. Importante destacarmos que a construção de relações pessoais deve se pautar por interesses legítimos e caracterizar-se por ser uma via “de mão dupla” e uma disposição e interesses genuínos em contribuir para o desenvolvimento e objetivos dos outros.
A ação política diz respeito à nossa atitude de encarar o poder positivamente e de desenvolvermos nossa capacidade de utilizar com eficácia as diferentes formas de poder (pessoal e de posição), além de de identificarmos as pessoas-chave que devemos e precisamos influenciar para conseguirmos nossos objetivos.
Por último, devemos destacar a relevância da nossa motivação e empenho no domínio dessas ferramentas, da frequência e intensidade de seu uso e, por fim, quanta energia e foco dispendemos para exercer o poder, potencializar nosso impacto nas pessoas e nos objetivos da organização e da sociedade Analisando essas três últimas formas de poder pessoal (relações, ação política e empenho) e as demandas e dinâmicas das organizações contemporâneas, percebemos que têm crescido em termos de relevância e da necessidade de refletirmos e nos capacitarmos para utilizá-las de modo ótimo.
As formas de poder pessoal ou informal são essenciais ao sucesso no ambiente corporativo e devem ser usadas de maneira mais intensa e frequente do que as formas de poder atreladas ao cargo, que precisam ser usadas com moderação para não gerarem insatisfação ou resistência. É também essencial nos atentarmos aos critérios que devemos adotar ao agirmos com poder, pois somos responsáveis por todas as consequências de nossas ações. O exercício do poder deve sempre ser pautado pelos impactos que causamos em nossa trajetória profissional e pessoal, na organização e na sociedade e, invariavelmente, devemos nos perguntar se o uso que estamos fazendo do poder é ético e moralmente defensável. Pontos que merecem extrema atenção e para os quais se mostra fundamental nossa atitude de contínua reflexão e aprimoramento como executivos.
Bibliografia
- Adler, A. Understanding Human Nature. Mansfield Centre: Martino Publishing, 2010.
- Galbraith, J. K. Anatomia do Poder. São Paulo, Livraria Pioneira, 1993.
- Yukl, G. Use power effectively. In: Locke, E. A. – Handbook of Principles of Organizational Behavior. Oxford: Blackwell Publishing, 2000.
- Pfeffer, J. Managing with Power. Boston, Harvard Business School Press, 1992.