Os 3 Pilares da Liderança

Todos estamos de acordo que um cego não pode guiar outro cego, pois os dois não iriam a parte alguma. Do mesmo modo, pretender exercer a liderança sobre outras pessoas sem exercê-la sobre si mesmo é uma tarefa tão impossível quanto um cego guiar outro cego. Apesar da evidência, muitos executivos ainda não captaram esta verdade tão simples.

Não basta somente a competência técnica, temos que ser também peritos em humanidade.

Atualmente, muito se fala sobre liderar o processo de desenvolvimento das pessoas através do coaching. Algumas empresas, imbuídas de boas intenções, mas desprovidas de conhecimento prático sobre este tema, estão deixando-se arrastar por esta nova onda esquecendo-se de que o mais importante de tudo não é o processo, são as pessoas. Em primeiro lugar, temos que formar aquele que formará.

E para cumprir esta missão, nada melhor do que aplicar os ensinamentos daquele que é conhecido como o mais sábio dos homens. Sócrates nos diz que temos que começar por nós mesmos: conhece-te a ti mesmo!

Auto-conhecimento

Não podemos falar de liderança sem falar do que existe de mais profundo e nobre no homem. Falar de liderança é falar de hábitos, comportamentos e virtudes; fatores que definem o homem como um ser que está chamado a realizar-se a si mesmo. No entanto, esta realização exige como pré-requisito o conhecimento próprio para que possa ser plena.

Não pode haver verdadeira liderança onde não existe um verdadeiro conhecimento de si mesmo, que traz consigo a identificação de fortalezas e debilidades. Tal fato nos leva a um realismo muito importante para o dia-a-dia de um tomador de decisões.

Há alguns anos Jim Collins publicou um artigo na HBR afirmando a importância da humildade – real conhecimento de si mesmo – para vencer a última etapa no processo de desenvolvimento de um líder.

Neste artigo, Collins enfatiza que há uma diferença entre um líder de alto nível e qualquer outro: o primeiro, por conhecer bem suas capacidades, sabe atribuir o valor necessário à contribuição que recebeu da sua equipe enquanto que o segundo comemora os sucessos como sendo resultado exclusivo das suas ações. Enquanto o segundo não deixa de ver a sua imagem refletida no espelho e assume uma postura narcisista, o primeiro sabe debruçar-se na janela da realidade e contemplar os fatos tal como são, com realismo e objetividade, sabendo valorizar adequadamente a contribuição das pessoas, e até mesmo da sorte, na consecução das metas propostas.

No entanto, além da humildade, diria que um líder de alto nível não pode estar completo sem a presença de outros dois aspectos: o auto-governo e a formação de pessoas.

Auto-governo

O auto-governo, ponto essencial para qualquer líder, é fruto de um conhecimento mais profundo das suas potencialidades. Se há uma falha no conhecer-se, também haverá uma falha na capacidade de dirigir-se a si mesmo. E que não dizer do governar e formar outras pessoas!

Quando falamos de auto-governo e formação de pessoas entramos mais propriamente no campo dos hábitos e das qualidades. Governar-se a si mesmo exige aprender novos hábitos e desaprender os antigos num processo de contínuo aprimoramento; diz respeito a uma postura ativa diante de si mesmo. Tal atitude nem sempre é encarada de modo favorável pelas pessoas porque envolve uma mudança não somente externa, mas sobretudo interna, que leva consigo uma mudança de valores e de critérios para tomada de decisão.

Formar as pessoas

Uma vez lançadas as bases para o auto-conhecimento e o auto-governo, estamos em condições de começar a falar em formação de pessoas. Não é possível realizar um bom trabalho de formação de pessoas sem ter passado pela experiência do conhecimento próprio e do domínio de si mesmo. Um bom formador é aquele que conduz outras pessoas pelos caminhos que ele mesmo já trilhou. Formar pessoas significa fazer com que se encarem consigo mesmas (auto-conhecimento) e que, como resultado, adquiram novos hábitos que as coloquem em condições de desempenhar plenamente as suas funções e exercer as suas responsabilidades (auto-governo).

Da noite para o dia encarregamos estas tarefas a pessoas que não estão adequadamente preparadas para exercer tal função e o resultado final é muito pouco significativo. Mais uma vez, queremos que guias cegos guiem a outros cegos!

A solução a este problema é evidente: curar-se da cegueira, ser capaz de ver. Para ajudar a que outros se conheçam, em primeiro lugar temos que nos conhecer muito bem. Ninguém dá o que não tem! Neste sentido, o “conhece-te a ti mesmo” socrático ainda continua perfeitamente atual e necessitado de ser colocado em prática por cada um de nós. Para conhecer os outros, conhecer-se a si mesmo. Analogamente podemos dizer: para liderar, lidere-se a si mesmo.

“Não podemos falar de liderança sem falar do que existe de mais profundo e nobre no homem.”

Num de seus diálogos intitulado “Górgias”, Platão coloca a seguinte pergunta a Cálicles, um jovem pertencente à aristocracia ateniense: “O que faz um homem melhor do que outro, do ponto de vista moral?” Em seguida responde que não é sua inteligência e tampouco sua força física; o fator decisivo são suas atitudes, seu comportamento. Este é o elemento diferenciador mais importante entre as pessoas justamente porque nossos atos, tanto externos quanto internos, revelam quem somos.

Portanto, se somos o resultado dos nossos comportamentos e decisões, também é lógico pensar que a liderança que exercemos reflete fielmente aquilo que somos. É deste modo que um líder se faz e se dá a conhecer.

A liderança é, acima de tudo, uma questão de atitude que se concretiza através de hábitos estáveis consolidados ao longo do tempo e que guardam uma relação íntima com o desenvolvimento de uma personalidade equilibrada. Isso explica ser impossível que alguém se torne um líder de um dia para o outro, como que por toque de mágica. A liderança tem a ver com o que somos, com o que estamos chamados a ser e com os nossos ideais.

Não podemos falar de liderança sem falar do que existe de mais profundo e nobre no homem. Falar de liderança é falar de hábitos, comportamentos e virtudes; fatores que definem o homem como um ser que está chamado a realizar-se a si mesmo. No entanto, esta realização exige como pré-requisito o conhecimento próprio para que possa ser plena.

Não pode haver verdadeira liderança onde não existe um verdadeiro conhecimento de si mesmo e que traz consigo a identificação de pontos fortes e fracos. Tal fato nos leva a um realismo muito importante para o dia-a-dia de um tomador de decisões.

About
Cesar Bullara
Diretor e Professor do Departamento de Gestão de Pessoas e Professor de Ética nos negócios Lecturer | IESE Business School Doutor e Mestre em Filosofia Pontifícia Università della Santa Croce, Roma Graduação Administração de Empresas FEA – USP Professor do Programa Estratégias Digitais para Empresas de Mídia Professor visitante IEEM – Uruguai Coordenador de projetos e pesquisas em Responsabilidade Social